sexta-feira, 27 de maio de 2016

Dom Miguel I - Defensor da legitimidade portuguesa.

El-Rei Dom Miguel I representou por certo a legitimidade e a tradição portuguesa, a resistência a uma modernização importada, que afrontava os valores radicados no mais fundo da alma do povo, com que se identificou. Não era tanto a ideia de liberdade que motivava o antagonismo dos Miguelistas às hostes de D. Pedro, mas antes a ideia revolucionária da ruptura com as instituições do antigo regime e em particular da Igreja. Isso mesmo explica a atitude da Santa Sé para com o governo de Dom Miguel I, bem como o comportamento da grande maioria dos bispos portugueses da época.

«Eis o Rei mais católico que tenho em toda a cristandade»
– assim O apresentou Gregório XVI em Roma, em Agosto de 1834.

Mais do que o “absolutismo”, com que António Sardinha se recusava a identificar, o que o Miguelismo/Legitimismo e os seguidores de Dom Miguel defendiam eram as Instituições Tradicionais Portuguesas, entre as quais as Côrtes Gerais e os Municípios Forais. Em suma, a Legitimidade Portuguesa.

Dizia Alexis de Tocqueville que “a revolução acabou por realizar, repentinamente, por um esforço convulsivo e doloroso, sem transição, sem precaução, sem respeitos, o que se teria acabado por realizar pouco a pouco por si ao longo do tempo. Tal foi a sua obra”.

O tempo ter-se-ia encarregado de ir substituindo as antigas instituições pelas modernas, sem necessidade das convulsões que acabaram por se dar, se tivesse havido a capacidade de entendimento e de reforma progressiva que faltou.

El-Rei Dom Miguel I foi um Rei amado pelo Seu povo, que O assumiu e venerou. Luz Soriano, historiador maior da nossa Guerra Civil, não hesita em afirmar que a maioria da população era Miguelista.

Oliveira Martins assim O descreve:

« D. Miguel e o Seu franco plebeísmo eram a genuína expressão do Portugal Velho que, de crises em crises sucessivas, atingia agora a última. O Rei passava, a cavalo, a galope, com a vara entalada na sela, moço e radiante; e a gente das ruas parava a adorá-Lo, com um ar de júbilo ingénuo nos rostos; os mendigos de uma cidade mendigante avançavam ajoelhando e O Príncipe abria a bolsa, dava-lhes dinheiro; as mulheres rezavam, pedindo a Deus a conservação de um Rei tão belo, tão bom, tão amigo do povo.


Corriam pequenos catecismos, orações em que Portugal, repetindo Jerusalém, era o motivo de salmos e antífonas ardentes, invocando-se a Virgem-Puríssima-Nossa-Senhora para que protegesse O Augusto e amado Rei, defendendo-O de todos os Seus inimigos, livrando o Reino do pestilento e infernal contágio da Seita Maçónica… Etc. »

"Sempre que aparecia em público, Dom Miguel era vitoriado, levado em triunfo, entre bênçãos e Aclamações delirantes: de uma vez, passando na Carreira dos Cavalos, a caminho de Queluz, achou-Se rodeado, sem poder avançar. Eram oficiais do Exército, eram Voluntários Realistas, eram paisanos, homens, mulheres, gente de todas as idades e classes, que puxando a carruagem O levou em triunfo, entre vivas espontâneos e ardentes, até Val-de-Pereiro.

Ninguém dirigia, ninguém ordenava essas festas sem programa, que brotavam como viva expressão do entusiasmo popular. Respirava-se o ardor de uma cruzada: Dom Miguel era um Pedro-Eremita. Criava-se uma Cavalaria nova e Sagrada, para opor à Seita Maçónica: era a Ordem de São Miguel da Ala, de que o Rei tinha o Grão-Mestrado, para defender a Santa Religião Católica, Apostólica, Romana e restaurar a Legitimidade Portuguesa".


Dom Miguel I foi, para além disso, um Rei carismático, visto como ungido, investido numa missão histórica e providencial, que se tornou num mito nacional.
É ainda Oliveira Martins quem nos conta a Sua retirada do Porto:

«A cada instante parava: eram os velhos, as mulheres com as criancinhas pela mão, que vinham saudá-Lo com tristes vivas, rodeando-O, pedindo-Lhe a bênção. (…) Dom Miguel atravessava as aldeias que O vinham esperar de joelhos, deitando-Lhe flores e votos, bênçãos e Aclamações».





Retirado e adaptado dum texto de Manuel Braga da Cruz.

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